sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Idéias em máximo alcance

Calor, céu azul e sem nuvens. Cenário perfeito para um chimarrão ao sol ou uma volta na praia, aproveitando o começo da primavera. Mas o bom tempo ao ar livre era só a previsão do que estava por vir na quinta-feira, 30 de outubro. A proposta, usar as horas da tarde e da noite para discutir temas ligados à publicidade e ao jornalismo, podia soar enfadonha e difícil se comparada às atrações da natureza naquele momento. Felizmente, o que se viu foi um grupo entusiasmado de organizadores, palestrantes e ouvintes, que compareceram ao Campus II da Universidade Católica de Pelotas (Ucpel) para debater ao longo do dia os temas propostos acerca do IV Congresso Brasileiro de Publicidade, ocorrido em julho, no evento batizado convenientemente de Propaga, projeto experimental dos alunos de Publicidade e Propaganda Francisco Ifarraguirre e João Pedro Allemand.

Logo na entrada do Centro de Educação e Comunicação (Cecom) de universidade, cartazes convidavam os alunos a participarem das atividades do dia. Após devidamente inscritos e credenciados, os ouvintes eram dirigidos ao salão onde aconteceria o evento, organizado para o bate-papo que viria. Com as cadeiras dispostas em círculo ao redor do espaço destinado aos palestrantes, o ambiente cuidadosamente montado conotava uma fuga intencional do clima formal das exposições tradicionais, dissolvendo as barreiras entre palestrantes e ouvintes.

Às duas da tarde, Ifarraguirre e Allemand ainda percorriam apressados os corredores do Campus, em busca das últimas peças que viriam a compor o cenário do evento que tinha início marcado para as 14h30min. Facilmente identificáveis em suas camisetas amarelas com logotipos do encontro estampados, os organizadores e apoiadores conservavam um semblante tranqüilo e simpático, recebendo os participantes calmamente às portas do espaço multiuso do campus. Podia-se perceber nos rostos dos promotores uma sensação antecipada de dever cumprido, uma merecida recompensa pelo trabalho iniciado mais de três meses antes.

Figuras conhecidas estavam presentes: a publicitária e professora Ana Amélia Perera, mediadora convidada das discussões da tarde, e a coordenadora da Agência Experimental de Publicidade da Ucpel (Agente) Fernanda Morales acertavam detalhes sobre o direcionamento dos debates com dois dos três palestrantes convidados. O professor de direito do consumidor Fernando Azevedo e o gerente de meio ambiente da Votorantim Celulose e Papel (VCP) Fausto Camargo chegaram cedo e aguardaram o início do evento. Apenas Daniel Moreira, o Cuca, sócio e diretor de criação da agência pelotense Insight, chegaria com um pouco de atraso, mas sem prejudicar o andamento das atividades programadas para a tarde.

Pouco depois da hora marcada, após a abertura oficial do evento pelos organizadores e uma apresentação em vídeo que deveria pautar a discussão, Fernando Azevedo começou sua exposição comparando humoradamente o cenário do evento ao do programa de TV Altas Horas, obtendo risos da platéia logo no início da apresentação. Adotando então um tom mais sério, mas sempre receptivo, Azevedo discutiu a dificuldade do estabelecimento de limites para a publicidade, colocando como pontos críticos a subjetividade, os valores individuais e a deturpação do sentido de liberdade de expressão, e que estes acabam servindo como base para erros de interpretação que resultam em exageros no mercado.

Seguindo a linha do primeiro palestrante, Fausto Camargo apresentou o cenário atual em questões de consciência sócio-ambiental, adotando tanto a perspectiva da empresa que representa quanto a do consumidor. Segundo o convidado, a reciclagem é parte importante do processo de sustentabilidade ambiental, mas ainda se discute pouco o consumo consciente, outra prática que pode ajudar na preservação do meio.

Último palestrante da tarde, e que à primeira vista seria facilmente confundido com um aluno qualquer de publicidade, Cuca exibiu uma bem-humorada apresentação de slides em que usava a cronologia de sua própria vida para ilustrar as mudanças no mercado publicitário nos últimos 15 anos com o advento da Internet, discutindo a praticidade do e-commerce em relação às lojas físicas, a possibilidade de extinção do comércio offline e a teoria da cauda longa de Chris Anderson. Quando debatia a formação profissional e o mercado, Cuca confessou, como forma de tranqüilizar os alunos mais preocupados, que a faculdade de publicidade e propaganda não estava sequer entre suas três primeiras opções de curso quando entrou na universidade.

Assim como o grupo que palestrou à tarde, a noite viu também um time de pesos-pesados dispostos a debater os temas discutidos no congresso brasileiro. Após pausa de uma hora para esticar as pernas, confraternizar e apreciar o café oferecido pela organização do evento, Rafael Zolin, redator da agência GlobalComm, o sócio e diretor de criação da agência Cubo.cc Roberto Martini e a editora de jornais online da Zero Hora Rosane Tremea reiniciaram às 19:30 o debate que se estenderia até o final da noite, mediado pela professora e pesquisadora Raquel Recuero.

Abrindo as atividades da noite, Rafael Zolin comentou a criatividade brasileira, fazendo um comparativo entre os mercados do país e estrangeiros e afirmando a necessidade de uma visão global do profissional no que diz respeito à criação em publicidade.

Penúltimo palestrante, Roberto Martini demonstrou, através de apresentações dos trabalhos da agência Cubo.cc, as novas possibilidades em utilização de mídias, concluindo com a declaração de que o futuro não reside na execução puramente técnica e sim nas grandes idéias.

Questionados sobre o perfil de profissional que melhor se adapta ao mercado atual, todos os convidados enfatizaram a importância do repertório pessoal, que, segundo eles, acaba pesando mais do que uma função específica registrada no currículo do candidato que busca um espaço no mercado de trabalho.

Encerrando as atividades, Rosane Tremea pontuou o futuro do jornalismo impresso e digital, demonstrando que a integração entre os meios online e offline é inevitável e até proveitosa pela possível remidiação, e assegurou que, em uma sociedade na qual todos são capazes de gerar informação, os diferenciais continuam sendo a qualidade e a credibilidade.

Dada a extensa gama de temas abordados, a ativa participação dos alunos e a qualidade dos profissionais convidados, pode-se dizer que a frase “O IV Congresso no máximo alcance”, escolhida como slogan do projeto, não poderia ter sido mais justa.


João Pedro Allemand (esq.) e Francisco Ifarraguirre apresentam o evento


Daniel "Cuca" Moreira, Fernando Azevedo, Fausto Camargo e Ana Amélia Perera


Roberto Martini, Rosane Tremea, Rafael Zolin e Raquel Recuero


*Pedro Dias é estudante de jornalismo, ou de publicidade, está em dúvida agora.