terça-feira, 4 de novembro de 2008

Zombie Walk em Pelotas



É um sábado à tarde e você está caminhando pelas tranqüilas e antigas ruas pelotenses... até aí tudo ok... De repente você ouve gritos e vê uma legião de zumbis caminhando pelas ruas...

Assutador? Na verdade não...

O aspecto de filme Trash e a singular manifestação encantaram o público pelotense neste sábado dia 1º de novembro. Quem despreocupadamente caminhava pelas ruas ou prestigiava a feira do livro foi pego de surpresa pela 2ºedição oficial da zombie walk.

Um dos primeiros registros que se tem da chamada “caminhada dos mortos” é de outubro de 2003, em Toronto, Canadá, com apenas seis participantes. Aí lá por agosto de 2005 em Vancouver, Canadá, ocorreu a primeira Zombie Walk em grande escala, com mais de 400 participantes caminhando por mais de 35 quadras no centro da cidade.

No Brasil fala-se que a primeira Zombie Walk foi realizada em Belém, em 29 de Outubro de 2007. E desde então os grandes centros urbanos estão aderindo este evento “underground”.

Reza a lenda que o que seria uma prévia da zombie walk em Pelotas aconteceu em 2004 com alguns poucos participantes que caminhavam fantasiados pelas ruas da cidade na noite de 31 de outubro para 1º de novembro, numa junção de Halloween e Dia de Todos os Santos.

Contudo recebeu expressividade apenas em 2006 com diversos participantes e organização através da comunidade oficial no site de relacionamentos: orkut.

Talvez tenha sido justamente a internet o que auxiliou no sucesso do evento. A partir dos fóruns as pessoas discutiam sobre maquiagens, roupas adequadas, músicas e filmes que tinham a ver com o tema, combinavam como seria a zombie walk em Pelotas e estipulavam roteiros. Essa mobilização e participação foi gerando o estado de excitação que fez com que muitos aderissem ao movimento realizando a caminhada em 2007 e “saíssem falando bem” do evento.

Dali diversos materiais saíram direto para o ciberespaço: vídeos no youtube e diversas fotos espalhadas pelos flickrs e fotolog’s dos participantes e daqueles que acreditaram na idéia e acompanharam como fotógrafos o percurso, no intuito de registrar e contribuir com a memória do underground.

Todo este marketing fez com as pessoas percebem que a zombie walk não tinha sido um evento fracassado e que “brincar” de zumbi grunhindo pelas ruas atrás de “cérebro” poderia ser muito divertido e criativo.

Assim, este ano, rapidamente, a organização rolou através da comunidade e na Praça Cipriano Barcelos, às 16 horas do já citado sábado, ocorreu a concentração daqueles quem em apenas duas horas “morreriam” e “reviveriam”.

A interação propiciou aos participantes momentos de comunhão no qual “zumbis” ajudavam a outros zumbis no seu processo de zumbização. Sem falar em toda a ação artística estimulada: fazer uma maquiagem criativa, construir um personagem (alguns até inventavam um passado e uma história para o seu “morto-vivo”) e interpretá-lo em um misto de teatro e intervenção urbana.

Foi o momento de todos dizerem que não se importavam com nada do que as “pessoas normais” fazem, o momento de dizerem que não se importavam com a opinião dessas mesmas pessoas, o momento de dizerem que já estavam mortas e podiam fazer o que quisessem (claro... com muita disciplina).

Se sentir parte de um filme de terror libera as tensões, faz com que os indivíduos sintam vontade de gritar e experimentar sensações movidas pelo humor negro.

E quanto à reação dos transeuntes? Nossa! Bem melhor do que se esperava.... algo como fascínio, confusão, incredulidade mas acima de tudo simpatia e interesse... “ Da onde vocês estão vindo?” Pergunta, com indisfarçado entusiasmo, uma atendente da lojinha de conveniência de um posto a uma das zumbizinhas que deram uma pausa na caminhada pra comprar chocolate.

Carros paravam para fotografar o inusitado acontecimento, crianças olhavam com admirada atenção e espanto, pessoas riam e acompanhavam a procissão por um tempo. Assim, a interessante concepção de “dar vida” aos mortos aliviou o pesar da véspera de Finados.

A morte sempre foi um dos maiores fascínios da humanidade e Freud já dizia que nenhum outro desejo acompanhava o homem como o antagônico anseio por morte e ao mesmo tempo pela eternidade.

Depois de 1 hora e 45 minutos de caminhada houve, com invejável rapidez, atualizações de blog’s, orkut’s, fotolog’s com fotos e vídeos estimulando a troca de materiais e acima de tudo aguçando a curiosidade e interesse daqueles que não investiram na idéia.

Se, pertinho de nós, em Porto Alegre, no dia 9 de Dezembro de 2006 ocorreu a maior Zombie Walk da América Latina contando com 400 participantes, quem sabe, ano que vem, Pelotas duplica seu número de mortos-vivos contando também com a sua participação?


*Camila Borges é uma zumbi que se fantasia de mortal que se fantasia de zumbi.

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